Editorial — O Transporte Coletivo em São José: Um Retrato de Abandono e Descaso

São José, uma das cidades que mais crescem em Santa Catarina, vive uma contradição inaceitável: enquanto expande suas fronteiras urbanas e aumenta sua relevância econômica na Grande Florianópolis, mantém um sistema de transporte coletivo que é, na prática, um retrato escandaloso de abandono público.
Não há um terminal de ônibus municipal. Não há linhas suficientes interligando os bairros. Não há horários adequados para atender à demanda da população. O que existe é um caos diário imposto ao cidadão, que depende de um transporte mal planejado, desconectado da realidade da cidade moderna que São José tenta ser.
O que justifica tamanha omissão? A ausência de um terminal central não é apenas um erro logístico — é um atestado da falta de prioridade dada à mobilidade urbana por sucessivas gestões municipais. Sem um ponto de integração eficiente, os passageiros são deixados à própria sorte, expostos a intempéries, sem conforto, sem informação e sem segurança. É como se São José ainda vivesse sob a mentalidade de uma cidade pequena, ignorando que já é um dos maiores polos populacionais do Estado.
A precariedade das linhas interbairros é outro sintoma grave. Quem precisa atravessar São José para estudar, trabalhar ou buscar serviços básicos enfrenta uma verdadeira maratona: trajetos longos, desconexos e, em muitos casos, a necessidade absurda de se deslocar até Florianópolis para, então, retornar a outro ponto da própria cidade. Um cenário que desafia o bom senso e penaliza, principalmente, quem mais depende do transporte público — trabalhadores, estudantes, idosos.
A oferta de horários, por sua vez, beira o desprezo. Aos fins de semana e no período noturno, o transporte praticamente desaparece. Não se trata de um problema técnico. Trata-se de uma escolha política: é a decisão de não investir, de não planejar, de não priorizar quem mais precisa.
São José não pode continuar prisioneira desse modelo ultrapassado. Não basta prometer “melhorias futuras” em campanhas eleitorais. É preciso agir agora: estruturar um terminal digno, redesenhar a malha de linhas interligando todos os bairros, ampliar a frequência de ônibus e integrar o transporte da cidade com o da Grande Florianópolis de maneira inteligente e eficiente.
Continuar tratando a mobilidade como um tema secundário é condenar São José ao atraso. É comprometer seu desenvolvimento econômico, social e urbano. Pior: é desrespeitar os mais de 250 mil cidadãos que vivem a cidade todos os dias, lutando para trabalhar, estudar, viver — apesar do transporte público, e não graças a ele.
São José precisa, urgentemente, de gestão, planejamento e respeito à sua população. O transporte coletivo é um direito básico. E enquanto esse direito for negligenciado, o futuro da cidade continuará sendo apenas uma promessa não cumprida.