Projeto pioneiro para criar sistema não invasivo para detectar falhas em geradores de energia avança em SC

A conexão entre empresas e universidades por meio de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) vem gerando transformações importantes no mercado de energia. Os programas de desenvolvimento acadêmico e para a indústria são capazes de resolver desafios do segmento e gerar uma força de trabalho mais qualificada para o que o setor energético atual precisa para ser mais competitivo e tecnológico. Em Florianópolis (SC), está em andamento um dos grandes exemplos do que a parceria entre academia e iniciativa privada pode proporcionar ao mercado energético: os avanços do “MagAnalyzer”, sistema que detecta falhas em geradores de energia elétrica ainda em estágio inicial.

A multinacional AQTech está se dedicando à execução da etapa de industrialização do produto, que tem origem em um projeto do Programa de P&D ANEEL proposto pela Engie Brasil Energia, na qual atua em conjunto com ITASA e pesquisadores e estudantes do Grupo de Concepção e Análise de Dispositivos Eletromagnéticos (GRUCAD). O laboratório foi fundado em 1985 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e se mantém em atividade há quase quatro décadas.

O início da operação ocorreu em 2012 com desenvolvimento de softwares experimentais para o segmento de energia e, em 2019, a AQTech ingressou no processo de industrialização do protótipo criado, que até então tinha dois pilotos instalados em geradoras de energia.

O objetivo de criar a solução vem do fato de que grande parte da energia elétrica que abastece a população ainda é gerada em usinas hidrelétricas. Nessas plantas, um dos principais equipamentos responsáveis pela conversão da energia hidráulica em energia elétrica é o gerador síncrono. Assim, quando há ocorrência de defeitos nesses geradores, a situação pode provocar interrupções no fornecimento de energia elétrica, implicando em prejuízos econômicos e sociais e diminuindo a confiabilidade do sistema elétrico.

O “MagAnalyzer” encontra-se na etapa de lote pioneiro e inserção de mercado e consiste em um equipamento não invasivo para detectar falhas em geradores de energia elétrica síncronos através do campo magnético externo (produto inédito no setor). A tecnologia também faz parte do escopo de trabalho da AQTech, referência global em tecnologias preditivas de monitoramento e diagnóstico de ativos energéticos.

A fase atual iniciou em agosto de 2023 e tem previsão de finalização em até 30 meses. Cerca de 30 colaboradores participam de forma direta dessa etapa sobre liderança do professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica da UFSC, Nelson Jhoe Batistela, que idealizou o projeto.

De acordo com Tiago Kaoru Matsuo, diretor técnico (VP) da AQTech, dentre os benefícios que a empresa consegue por meio da parceria com o âmbito acadêmico está a possibilidade de explorar tecnologias disruptivas, ainda não exploradas industrialmente, como o próprio MagAnalyzer. Além disso, ele destaca que a proximidade com a universidade faz com que a UFSC seja a principal fornecedora de mão de obra profissional para a empresa.

“Este relacionamento solidifica a empresa como referência tecnológica e permite a capacitação de colaboradores da empresa (por meio de mestrados ou doutorados, por exemplo). E também permite captar fomentos para projetos de P&D, visto que as concessionárias/ANEEL valorizam a participação de instituições de pesquisa”, afirma Matsuo.

Além deste projeto em andamento, a AQTech também já manteve parcerias com o laboratório LISHA e Fapeu, da própria UFSC, e com laboratórios do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Nesta instituição, um dos projetos de extensão permitiu a montagem de uma bancada de simulação de defeitos mecânicos, que possibilitou aprofundar pesquisas em outros estudos, servindo de validação de funcionalidades de softwares desenvolvidos pela multinacional, além de ser também uma ferramenta poderosa para ministrar treinamentos práticos voltados à detecção de defeitos mecânicos em máquinas rotativas no setor de energia.

Os projetos em questão também contribuem do ponto de vista acadêmico com a elaboração de trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado, teses de doutorado, bem como inúmeras publicações técnico-científicas.