Publicado em 06/07/2017
Quando um fenômeno dessa natureza acontece, biólogos e pesquisadores iniciam análises para avaliar as causas e eventuais consequências dos processos oceanográficos e biológicos relacionados ao evento. Este é um dos trabalhos que está sendo realizado pelo Laboratório de Ficologia (Lafic) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com pesquisadores de diversas regiões do mundo, após o aparecimento de algas de mares gelados na Praia do Campeche, em Florianópolis.
Os exemplares das algas Macrocystis pyrifera e Durvillaea antarctica chegaram ao litoral catarinense em setembro de 2016, cerca de uma semana após o maior ciclone extratropical do ano, que aconteceu no litoral da Argentina e do Uruguai e atingiu também o Rio Grande do Sul. As algas em questão são típicas de ambientes de mares frios e antárticos, onde formam imensas florestas submersas, conhecidas como kelps. Elas podem chegar a 45 metros de comprimento e geralmente se desenvolvem em áreas mais profundas, para que possam atingir maior altura. No Brasil, elas chamaram atenção pelo tamanho e peso atingido — chegando a 1,5 metro e 1,9 kg —, quando as maiores espécies de algas que vivem no litoral brasileiro chegam a 50 cm e são extremamente raras.
Alguns testes fisiológicos como a medição de capacidade fotossintética, produção de oxigênio e respiração revelaram que as algas foram encontradas ainda com vida, mesmo tendo feito um deslocamento de cerca de 3 mil quilômetros. A bióloga e pesquisadora responsável, Manuela Batista, explica que isso é possível porque essas algas possuem vesículas de ar denominadas neumatocistos, que proporcionam flutuabilidade a essas espécies. Assim, ao se desprender do seu local de origem, conseguem flutuar a longas distâncias onde podem chegar vivas e reprodutivamente viáveis. Este eficiente mecanismo de dispersão pode formar numerosas jangadas de algas flutuantes, também chamadas de rafts, capazes de transportar larvas e até indivíduos de diversas espécies de animais, por exemplo.
O objetivo dos pesquisadores é tentar entender como estas algas chegaram até Florianópolis e se há nicho disponível para estas espécies viverem. Para isso, estão sendo feitos testes de DNA para serem comparados com amostras dos locais mais próximos de ocorrência destas espécies e modelagem de nicho para saber se há probabilidade de ocorrência dessas espécies. O modelo é baseado em registros de ocorrência georreferenciados e em dados ambientais das regiões onde as espécies são nativas.
Este fenômeno, ainda não documentado no Brasil, pode estar relacionado com eventos climáticos que trazem estas espécies provavelmente da Patagônia, no Sul da Argentina, para o litoral brasileiro. Manuela Batista diz que também há uma remota possibilidade de que elas tenham vindo da Austrália ou Antártida. A pesquisadora acredita que o ciclone que ocorreu no litoral gaúcho foi o responsável pela locomoção das algas numa corrente mais fria, o que possibilitou a sobrevivência dos espécimes. Os dados do National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA) registraram anomalias climáticas na costa no período em que as algas chegaram ao litoral catarinense, com a ocorrência de correntes muito frias para aquela época do ano, chegando a -1°C.
Fonte: AGECOM/UFSC
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