Florianópolis, 27/04/2024
Publicado em 29/09/2016
Se depender dos 27 alunos da 5ª série da Escola de Ensino Fundamental Professor Lapagesse, de Criciúma, que recentemente visitaram o Centro de Educação Ambiental da Reserva Biológica Estadual do Aguaí, no sul do Estado, a resposta é um esperançoso “sim”.
Mal o ônibus fretado estaciona e já se escuta a voz da professora Cristina de Lima, 49 anos, tentando conter a excitação dos meninos e meninas com idades entre 10 e 12 anos. Eles desembarcam em fila indiana e depois de poucos passos chegam à sede do Centro onde são aguardados por Micheli Ribeiro Luiz. A seu lado está Joel Casagrande, chefe da Reserva criada em 1983, com 7.672 hectares nos municípios de Treviso, Nova Veneza, Morro Grande e Bom Jardim da Serra, além de Siderópolis.
Bióloga, Micheli, 38 anos, é coordenadora, pesquisadora e educadora do Instituto Felinos do Aguaí, uma ong responsável pela criação e manutenção do Centro instalado no entorno da Reserva. Ela recebe os pequenos visitantes carinhosamente e avisa que o passeio será dividido entre algumas informações fornecidas ali mesmo e uma caminhada por uma trilha denominada de interpretativa.
– O que vocês vão dizer para Micheli? – cobra Cristina aos pupilos.
– Bom dia, Micheli – brada em coro a turminha a plenos pulmões.
– Agora guardem e desliguem os celulares. Olha que eu trouxe o chicote na bolsa – brinca a professora, sem saber que ali não há sinal para os aparelhos.
Como sabe que lá sinal de celular é ficção, a bióloga permite que os alunos continuem segurando seus telefones. E a autorização transforma os aparelhos em potentes gravadores de áudio, de vídeos, em máquinas fotográficas, armazenadores na manhã da quinta-feira, 15 de setembro, de informações vitais para uma prova ou um trabalho que Cristina promete aplicar.
A aula inclui um detalhado relato sobre os felinos silvestres ali existentes. São eles a onça pintada, o leão baio, o puma e a jaguatirica, uma espécie de onça pintada em miniatura, o jaquarundi e o gato maracajá. Pesquisas realizadas pelo Instituto Felinos do Aguaí ao longo dos 10 anos de existência da ong. comprovam, no entanto, que todos estão ameaçados de extinção.
A explicação entristece os ouvintes de Micheli. Os animais que servem de alimentos aos felinos, como a paca, a cutia, o quati e a capivara, bem como os veados e tatus, são comumente abatidos por caçadores. Sem ter o que comer em seu habitat natural, os felinos acabam vítimas de emboscadas quando invadem as propriedades rurais onde ameaçam plantações e criações de animais.
Após um lanche, o grupo começa a percorrer a chamada trilha interpretativa idealizada pelo Felinos do Aguaí em conjunto com a Fatma. Cicerone ágil e receptiva a todo tipo de pergunta, Micheli chama a atenção para a importância geológica, geográfica, hídrica e histórica da reserva. Sobre o aspecto histórico ensina:
– Vocês estão percorrendo um pedaço da Trilha dos Tropeiros ou Trilha de São Pedro ou o Caminho de Tropas de São Pedro – informa, referindo-se a um caminho construído em 1895, no governo Hercílio Luz, ligando a sede da colônia de Nova Veneza, no alto da serra, na região de Bom Jardim da Serra, São Joaquim e Lages.
A criançada espicha o pescoço para o alto da montanha com quase 1.500 metros de altitude imaginando uma fileira de cavaleiros e tropas apinhados no corredor aberto na montanha de quase 1.500 metros de altitude. Da serra trazia-se o pinhão, o charque e o queijo. Do litoral, levava-se o sal e as farinhas de milho e de mandioca.
A cada parada novas informações vão surpreendendo e mais fotos são armazenadas na galeria dos celulares, como as das bromélias. Mesmo sem ainda estarem com flores, elas recebem especial dos pequenos desbravadores. Afinal, eles descobrem que a planta típica da Mata Atlântica, funciona como um mini ecossistema da natureza: a água da chuva armazenada em suas folhas abauladas mata a sede de pássaros, bugios, macacos prego e outros pequenos animais.
Quase ao final do passeio, de duas horas entre ida e vinda, a gurizada é apresentada ao Rio da Serra. Este, depois de se encontrar com o Rio da Mina transforma-se no Rio São Bento, um dos formadores da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá.
– Mas cadê a água?– indaga Lucas da Silva Baesso, 11 anos, o mais perguntador da turma, ao ver apenas pedras secas no leito do rio. Logo descobre que nas épocas de estiagem a água daquele e de vários outros rios da Reserva corre apenas embaixo das pedras. Mas como para toda regra há uma exceção, alguns metros adiante ele e os colegas surpreendem-se com um trecho do rio onde a água chega até os tornozelos.
É tanta emoção e encantamento que Mateus de Assunção, 12 anos, só espera Micheli atestar a potabilidade da água para deitar-se de bruços no leito pedregoso e matar a sede daquele quase meio-dia.
A visita está quase acabando e Micheli faz um alerta:
– Cada vez que abrirem as torneiras em casa saibam que estarão usando a água da Barragem de São Bento, formada por rios da Reserva do Aguaí. Não desperdicem. Isso também serve para quem mora em Forquilhinha, Içara, Maracajá, Morro da Fumaça, Nova Veneza e Siderópolis.
Quase às 15 horas, a despedida. É necessário percorrer os 32 quilômetros que separam o Centro de Educação Ambiental da cidade onde estudam, em Criciúma. Todos estão cansados e suados, mas nunca mais serão os mesmos mas depois do que aprenderam com Micheli. Certamente, a luta pela sustentabilidade do planeta acaba de conquistar novos adeptos.
Imara Stallbaum
Jornalista, MTb/RS-3804 JP
Antonio Carlos Mafalda/Mafalda Press |
Antonio Carlos Mafalda/Mafalda Press |
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