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ARTIGOS

As Novas Rolinhas dos Coronéis

Publicado em 26/01/2012





Em 1977, o escritor baiano Jorge Amado brincou com o coronelismo vigente nas regi?es Norte e Nordeste do Brasil. Em sua obra ?Tieta do Agreste?, o prefeito da pequena cidade era o coronel Artur da Tapitanga, que dava abrigo, comida e alfabetizaç?o a algumas meninas em troca de favores sexuais. Elas eram chamadas de pombas-rolas, as famigeradas ?rolinhas?. Impossível esquecer a interpretaç?o magistral do monstro sagrado Ary Fontoura (assim diria o Faust?o!) para o velho Artur, na adaptaç?o televisiva de 1989. Eis que, em pleno século XXI, os coronéis seguem no poder, agora disfarçados e apaniguados pelo populismo lulo-petista que abraça o Brasil há quase 10 anos. Mas as ?rolas? hoje s?o outras.

A pomba da vez é o centenário Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Criado em 1909 como uma inspetoria do governo Nilo Peçanha, ganhou força 10 anos depois quando o paraibano Epitácio Pessoa ascendeu ? Presid?ncia da República e queria mais que apenas estudos sobre o semiárido brasileiro: ele queria obras efetivas. Mas seu sucessor, a partir de 1922, o mineiro Artur Bernardes, n?o deu continuidade e o órg?o praticamente desapareceu. Só no final de 1945 recebeu o nome e as atribuiç?es atuais através de um Decreto-Lei do quase desconhecido presidente José Linhares, o primeiro cearense a governar o Brasil, ainda que por apenas 3 meses e 5 dias, atendendo convocaç?o das Forças Armadas após a derrubada de Getúlio Vargas. Até ent?o, Linhares era o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal.

Atualmente, o DNOCS é uma autarquia do Ministério da Integraç?o Nacional, servindo de poleiro para ?rolinhas? apadrinhadas de políticos nordestinos e dividindo as manchetes policiais de corrupç?o com suas ?companheiras? de pasta: Companhia de Desenvolvimento dos Vales do S?o Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) e a Superintend?ncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). No governo Lula, o ministério ardeu nas m?os de quatro políticos do Nordeste: os cearenses Ciro Gomes e Pedro Brito (ambos do PSB) e os baianos Geddel Vieira Lima e Jo?o Santana (ambos do PMDB). A presidente Dilma Rousseff n?o mudou a corriola. Em sua gest?o, a Integraç?o Nacional foi entregue, de porteira fechada, ao socialista pernambucano Fernando Bezerra (também do PSB).

O DNOCS caiu novamente em desgraça após a crise de poder entre o sedento PMDB, do vice-presidente Michel Temer, e o PT e sua gigantesca base aliada. Por conta do famoso ?fogo-amigo?, vazou ? imprensa um relatório da Controladoria Geral da Uni?o (CGU) que aponta um montante de R$ 312 milh?es em corrupç?o em apenas 3 anos e levaram ? demiss?o a diretoria do órg?o, apaniguados de poderosos políticos peemedebistas do Nordeste. Em um gesto público de insatisfaç?o, o líder do PMDB na Câmara, deputado norte-riograndense Henrique Eduardo Alves desafiou a presidente Dilma e questionou: ?O governo vai brigar com metade da República? Com o maior partido do Brasil? Vai brigar com quem tem o vice-presidente, 80 deputados federais e 20 senadores? Por que faria isso?? ? ironizou, segundo informaç?es dos jornais O Globo e Folha de S?o Paulo de quinta-feira, 26 de janeiro de 2012.

Mas n?o datam dos governos Lula e Dilma os escândalos envolvendo o DNOCS e a indústria da corrupç?o que se ergueu em nome de pseudoideologias sociais no semiárido brasileiro. Como esquecer o caso envolvendo o deputado pernambucano Inoc?ncio Oliveira (hoje no PR, mas ? época no antigo PFL, e em seu 9? mandato consecutivo)? Em 1993, quando era presidente da Câmara, no governo Itamar Franco, Inoc?ncio foi acusado de utilizar o DNOCS para perfurar tr?s poços artesianos em suas terras, no interior de Pernambuco. Desde 1959, ao lado da SUDENE, o Departamento Nacional de Obras Contras as Secas é responsável pela construç?o de estradas, ferrovias, eletrificaç?o, entre outras obras, muitas das quais jamais saíram do papel, mas foram diversas vezes pagas com o dinheiro dos impostos dos brasileiros. Junto com a CODEVASF, o DNOCS participa das obras pol?micas de transposiç?o do Rio S?o Francisco.

O que deveria ser uma importante autarquia do Governo Federal, responsável por levar um pouco de cidadania e bem-estar para os milh?es de brasileiros vítimas do fenômeno cíclico das secas que assolam tantas regi?es de um país de dimens?es continentais, transformou-se num antro de politicagem e roubalheira. Muito além de bandidos corruptos, safados e sem a menor vergonha na cara, os coronéis do século XXI s?o assassinos. Em nome de benefícios políticos e pessoais, roubam e matam, indiscriminada e diariamente, os sertanejos, outrora fortes, do Polígono das Secas, que compreende nove Estados brasileiros. S?o bilh?es de Reais surrupiados do dinheiro público. Essas s?o as novas ?rolinhas? dos coronéis modernos e, como a presidente Dilma n?o é a deliciosa Tieta, tudo continuará como antes no ?Brasil Maravilha?!

HELDER CALDEIRA*
Escritor, Jornalista Político, Palestrante e Conferencista
www.heldercaldeira.com.br ? helder@heldercaldeira.com.br
*Autor do livro ?A 1? PRESIDENTA? (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff e que já está entre os livros mais vendidos do país em 2011.









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