Publicado em 27/09/2022
Um, no dia em que nasceu de parto, no interior do Rio Grande do Sul, em 31 de dezembro de 1948. Outro em 12 de março do ano seguinte, quando o pai o registrou no cartório. E o terceiro, em 22 de junho (de 2014) quando submeteu-se a um transplante de fígado no Hospital Universitário da UFSC em Florianópolis, onde mora. Os oito anos da bem sucedida cirurgia foram celebrados recentemente na companhia da família e de alguns amigos, em clima de grande emoção e gratidão.
Depois de um ano cuidando exclusivamente da saúde e da alimentação balanceada, nasceu um novo Mafalda. Ele introduziu pitadas de lirismo no antigo estilo fotográfico e, muito importante, engajou-se voluntariamente, com todas as forças, em campanhas destinadas a estimular a doação de órgãos, proposta do Dia Nacional da Doação de Órgãos comemorado neste 27 de setembro.
Entusiasmado com iniciativas do gênero, o fotojornalista considera-se um privilegiado. Afinal, agradece todos os dias por ter sido contemplado com um fígado novo em substituição ao antigo órgão onde foram detectados três tumores malignos. Recentemente, ele foi convidado para participar do projeto Cicatrizes, organizado pela jornalista Renata Veneri, em São Paulo.
Lá, fotografou nove transplantados de várias idades e de órgãos diferentes (ele transformou-se no décimo transplantado fotografado). As imagens estão sendo exibidas em pontos públicos da capital paulista. Já a trajetória de Mafalda virou reportagem de capa da revista GOL. A empresa encantou-se com o currículo de Mafalda antes e depois do transplante, e decidiu transformá-lo numa espécie de case de sucesso para seus leitores.
Efeito devastador – É um fato que a pandemia teve um efeito devastador sobre muitos sistemas de doação e transplantes no mundo. E com o Brasil não foi diferente. “Alguns estados chegaram a ter suas estruturas completamente arrasadas”, conta o médico intensivista Joel de Andrade, coordenador de Transplantes de Santa Catarina e do Hospital Universitário (HU) da UFSC. Felizmente, o cenário está mudando e Santa Catarina volta a ser destaque brasileiro em número de transplantes realizados.
– Em 2019, ano pré-pandêmico, registramos o melhor resultado de doação e de transplantes de toda nossa história, com 47,4 doadores por milhão de habitantes, algo impressionante no Brasil. Em 2020 ,foi um pouco menos do que 40 doadores por milhão de habitantes e em 2021 pouco mais de 40. Já em 2022, ano que começou com a pandemia ainda ativa e com muitas complicações, conseguimos chegar a 42,9 doadores por milhão de habitantes, quase 43, o que é próximo dos resultados do período que antecedeu a pandemia. Em oito meses de 2022 se superou em muito todos os resultados de 2021. E temos mantido a liderança nacional – atesta Joel.
Boa parte do resultado tem a influência do Sistema Espanhol de Coordenação de Transplantes cujo modelo vem sendo desenvolvido aplicado e há 17 anos pelos catarinenses.
– É um sistema cuja base de funcionamento é a existência, em cada hospital, de um grupo de profissionais de áreas críticas, que em tempo parcial se dedicam à procura de doadores de órgãos. Eles não vão ao hospital procurar os doadores. Eles estão nas UTIs e quando aparecem os potenciais doadores eles os identificam – ensina o médico intensivista, ressaltando que o sistema é centrado também num forte treinamento.
Antes da influência dos espanhóis, a não autorização de doações era de 70%. Depois da implantação dos cursos de treinamento passou para menos de 30%. Diante de resultado tão positivo Santa Catarina vem repassando essa capacitação a outros estados
O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Verde. Trata-se de uma iniciativa que busca incentivar o debate em torno da doação de órgãos. Neste período, o país é tomado por campanhas que ressaltam a importância de se doar órgãos. O reforço está em elucidar como esse ato pode salvar a vida de muitas pessoas. Com esse intuito, o aluno Flávio Vieira Neto, do 5º ano do Colégio Gardner, no Kobrasol, produziu um interessante trabalho, que pode ser assistido a seguir.