Otto e os comparsas da Jambro Band fizeram, até o momento, a única apresentação de lançamento do disco The Moon: 1111 na região Sul, na madruga de sábado (12) para domingo (13), no Green Park, casa que costuma receber noitadas eletrônicas.
A recepção foi em alto estilo com a Lamaçau, banda cover de Chico Science & Nação Zumbi, que tirou de letra o repertório graças à alta qualidade dos músicos, um coletivo de percussionistas e integrantes de bandas locais como Samambaia Sound Club, Skrotes e Sociedade Soul.
Em meio à mata fechada e iluminada do Green Park, o clima era perfeito para o filho mais rebelde do manguebeat brincar com o sincretismo musical de sua banda, também forjada como um coletivo do que há de melhor na música brasileira contemporânea (do Cidadão Instigado à Nação Zumbi). Com ar de malditão (foi despachado da Nação e do Mundo Livre S/A na década de 1990) e um histórico de porralouquice artística e social com poucos precedentes, Otto encanta porque é um maluco beleza sincero, com talento e uma banda de respeito.
Enquanto baixo, guitarras e bateria ficam comportadamente alinhados no fundo do palco, à sua direita, bem em frente ao público, está o trio de percussionistas que dá o sentido e o peso às palavras de Otto: Marco Axé, Male e Toca Ogan, todos em um branco impecável, fazendo do palco um terreiro, uma celebração que encanta plateia e artista. “Isso aqui é o cosmos, baby”, se entusiasma Otto, pouco antes de lamentar a curta passagem por Floripa para o show de domingo à tarde que teria que fazer em São Paulo. Não faltaram gatinhas da plateia oferecendo casa e comida para que o cantor ficasse um pouco mais na área.
É isso mesmo, Otto virou até símbolo sexual.
“Eu lembro que enchia o Drakkar (antigo bar que ficava no centrinho da Lagoa). Hoje aqui tem uns seis Drakkar. Aqui tá a galera!!”, continuou o galego, mostrando que ainda tem boa memória da cidade. E a galera respondeu à altura. As músicas novas (“Exu Parade”, “DP”, “The Moon:1111”) não eram estranhas e algumas das mais antigas (“Ciranda de Maluco”, “Último Sino”, “Dias de Janeiro”), eram curtidas com reverência. A música da novela (“Crua”) não foi muito mais aplaudida do que a homenagem a Sabotage (“Selvagens Olhos, Nego!”) e isso mostrava que Otto estava certo. Aquelas duzentas e tantas cabeças ali eram a galera dele em Floripa, que na noite “lado B” do Planeta Atlântida se embrenhou pela Joaca para ouvir uma música que muitas vezes tinha o peso de uma Nação Zumbi, a hipnose do afrobeat e a mesmíssima raiz dos afrosambas de Baden e Vinícius.
Aqui era o cosmos, baby.
Fabrício Umpierres Rodrigues
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