21 de outubro de 2025
#Editorial #Paulo Cordeiro

Narcisismo Digital: Influenciadores, Jornalistas e o Egotrip da Informação

Se antes o jornalismo era feito com café frio, pauta na mão e sola de sapato gasta, hoje ele pode ser produzido entre um unboxing e uma dancinha no TikTok. A notícia virou cenário de fundo para um fenômeno bem mais visível: o narcisismo performático dos influenciadores digitais. 😁

A linha que separava a informação da autoafirmação ruiu sem cerimônia. Os “novos comunicadores” — leia-se: influencers com wi-fi e filtro de pele — se autointitulam jornalistas de lifestyle, especialistas em tudo e fontes de credibilidade instantânea. É o jornalismo Nutella: visualmente agradável, superficialmente informativo, emocionalmente centrado no “eu”.

Enquanto isso, os jornalistas mais experientes — aqueles que enfrentaram redações fumacentas e deadlines reais — assistem à transformação da profissão com um misto de espanto e acidez. Alguns até tentam se adaptar, postando vídeos sem muita coordenação motora e usando hashtags como quem tenta entender uma nova língua. Outros preferem o sarcasmo: “Passei 30 anos cobrindo guerra pra agora competir com um blogueiro que opina sobre geopolítica enquanto faz mukbang.”

O problema não é só a forma, é o conteúdo (ou a falta dele). O narcisismo digital transformou a informação em uma ferramenta de validação pessoal. Não se trata mais de “o que está acontecendo no mundo?”, mas de “como o que está acontecendo no mundo me afeta enquanto indivíduo especial e único?”. Likes, views e comentários substituíram a velha régua de credibilidade: a checagem de fatos.

Do ponto de vista sociocultural, a influência dessas figuras vai além da estética. Elas moldam comportamento, opinião política, consumo e até moralidade. Uma thread mal escrita ou um reels emocionado têm mais alcance que editoriais de grandes jornais. O efeito? Uma geração que confunde visibilidade com autoridade e engajamento com veracidade.

Ainda assim, seria ingênuo achar que os jornalistas estão apenas assistindo passivamente. Muitos estão migrando, hibridizando linguagens, adotando estratégias de influência sem perder o rigor (ou ao menos tentando). O resultado é um jornalismo em mutação, tentando sobreviver ao algoritmo enquanto mantém algum resquício de ética.

Ironia das ironias: os mesmos jornalistas que antes desprezavam o “furo fácil” agora correm para produzir conteúdo palatável para o Instagram. E os influenciadores que começaram fazendo dancinha agora lançam podcasts com convidados “especialistas” — geralmente amigos que sabem falar bem e têm boa iluminação.

No fim das contas, o que temos é um novo ecossistema de informação onde o ego virou editor-chefe, o feed é a nova manchete, e a vaidade é o lead que mais engaja.

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