21 de outubro de 2025
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Espuma na Lagoa da Conceição é causada por algas tóxicas ligadas à poluição, aponta laudo da UFSC

Um laudo técnico assinado por cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) confirmou que as espumas formadas na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, têm origem em algas potencialmente nocivas. O estudo aponta que essas florações estão diretamente relacionadas à poluição, especialmente ao excesso de nutrientes provenientes de esgoto e à ressuspensão de sedimentos no fundo da lagoa — resultado de intervenções humanas, como dragagens.

Em entrevista ao Portal da Ilha Digital no domingo (19/10), o presidente da AMO Lagoa, Kleber Pinho, falou sobre a situação alarmante em que vive nosso principal cartão postal. “Os moradores ficam assustados, porque novamente há um acumulo muito grande de algas. A comunidade ainda tem receio, se é poluição, se é natural, a gente precisa identificar melhor o que é, principalmente traçar, cobrar do poder público, um plano de recuperação da Lagoa.”, explica.

As análises foram realizadas entre os dias 13 e 15 de outubro por uma equipe formada pelos pesquisadores Leonardo Rörig, Paulo Horta, José Bonomi, Alessandra Fonseca e Paulo Pagliosa. Eles identificaram nas amostras a presença de algas da classe Raphidophyceae, conhecidas por formar as chamadas “marés marrons”. Segundo o laudo, essas algas podem causar mortalidade de peixes e crustáceos ao liberar um muco que bloqueia as brânquias e, eventualmente, produzir toxinas capazes de provocar intoxicação humana.

Os cientistas destacam que a espuma não é resultado de um processo natural do ecossistema, mas sim de um desequilíbrio causado pela ação humana. “Os fatores causais mais prováveis são o excesso de nutrientes resultante de esgotos e a ressuspensão de matéria orgânica acumulada no fundo, com ativação de cistos de dormência das algas”, aponta o documento.

Segundo a vereadora Manu Vieira, que estava presente na reunião com os representantes da AMO Lagoa,”A população vê sofrendo novamente a Lagoa da Conceição, nos choca muito pois esse é nosso cartão postal da cidade. Nós queremos é um plano de ação para mitigar esse problema. Já tivemos acesso ás análises do laboratório do IMA e da UFSC, e nos explicaram que esse problema existe em decorrência da floração das algas.”, pondera a vereadora.

O estudo da UFSC recomenda ações imediatas de contenção e remoção da espuma, além de medidas emergenciais de descontaminação da Lagoa. O laudo também sugere a implementação de um sistema permanente de monitoramento da qualidade da água e da presença de cistos de algas nocivas, com participação conjunta de universidades e órgãos ambientais.

Entre as recomendações, os pesquisadores pedem:

  • Remoção emergencial da espuma e descontaminação do corpo lagunar;

  • Implantação de coleta e tratamento terciário de efluentes domésticos nas bacias que drenam para a lagoa;

  • Interrupção do bombeamento de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) das Rendeiras para as Dunas da Joaquina;

  • Implementação de soluções baseadas na natureza para destinação dos efluentes;

  • Criação de um sistema de monitoramento de longo prazo, com envolvimento técnico da UFSC e instituições de gestão ambiental.

Metodologia científica

A equipe coletou seis amostras em diferentes pontos da lagoa, utilizando a própria espuma densa, além de água da superfície e subsuperfície. O material foi analisado in vivo — sem conservantes — para preservar as características das algas e evitar a destruição de mucos e toxinas.
As observações foram feitas em microscópio óptico de alta resolução (Olympus BX51), com ampliações de até 400x. As análises foram registradas por fotografias e medições morfométricas, enquanto variáveis como pH e salinidade também foram monitoradas.

Análise do IMA descarta presença de óleo

O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) também investigou a situação após receber denúncias de uma suposta mancha de óleo na lagoa. Técnicos da Diretoria de Controle e Passivos Ambientais estiveram no local em 14 de outubro e coletaram amostras para análise, em parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

De acordo com o diretor do IMA, Diego Hemkemeier Silva, a vistoria descartou a presença de óleo. “Foram observadas alterações na coloração da água e presença de espuma, mas os resultados laboratoriais confirmaram que se tratava de espuma biogênica, formada por floração de microalgas”, afirmou.

Segundo o IMA, esse tipo de fenômeno pode ocorrer naturalmente em condições de alta temperatura, intensa luminosidade e excesso de nutrientes na água. A tendência é que o evento se dissipe com mudanças ambientais, como a redução da temperatura, o aumento das chuvas e a agitação das águas.

O oceanógrafo do IMA, Dr. Carlos Eduardo Tibiriçá, reforçou que o monitoramento é contínuo e que nem toda floração está associada à produção de toxinas. “Esse tipo de ocorrência requer atenção, mas é fundamental diferenciar as florações tóxicas das inofensivas. O acompanhamento permite avaliar riscos e orientar ações preventivas”, explicou.

População deve evitar contato

O IMA e a UFSC alertam para que moradores e visitantes evitem o contato direto com a água em áreas onde há espuma ou alteração de cor. Apesar de o fenômeno ter características naturais em parte, a presença de algas potencialmente nocivas exige cautela até a conclusão dos estudos toxicológicos.

A Lagoa da Conceição, um dos principais cartões-postais de Florianópolis, enfrenta há anos problemas ligados ao despejo irregular de esgoto e intervenções no seu ecossistema. O episódio reacende o debate sobre a necessidade urgente de políticas públicas efetivas de saneamento e proteção ambiental no local.

 

Texto: Paulo Luís Cordeiro
Video e fotos: Paulo Luís Cordeiro

Com informações da UFSC e IMA

Espuma na Lagoa da Conceição é causada por algas tóxicas ligadas à poluição, aponta laudo da UFSC

Espuma na Lagoa da Conceição é causada