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Laboratório da UFSC desenvolve novas tecnologias para criação em cativeiro de espécies de peixes ameaçadas de extinção

Publicado em 28/10/2015


LAPOM/UFSC
Laboratório da UFSC desenvolve novas tecnologias para criação em cativeiro de espécies de peixes ameaçadas de extinção



O foco do estudo é evitar a retirada destas espécies de seu habitat natural, diminuindo assim o alto índice de extrativismo no Brasil.

Provavelmente você já deve ter presenciado esta cena: um aquário coberto por águas cristalinas com conchas artificiais e peixes de diversos tamanhos, coloridos e brilhantes, deslizando ágil e graciosamente de um lado para o outro. Este cenário para alguns pode remeter aqueles grandes aquários públicos ou para as mentes mais criativas cenas de conhecidas animações cinematográficas.

Ao contrário do que tudo indica esta cena é presenciada diariamente pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Peixes Ornamentais Marinhos (LAPOM) localizado próximo a uma das praias mais admiradas de Florianópolis: a Barra da Lagoa. Liderada pela professora do Departamento de Engenharia em Aquicultura, Mônica Yumi Tsuzuki, que também é membro da Câmara de Pesquisa da UFSC e coordenadora de pesquisa do CCA, a equipe desenvolve desde 2008 uma proposta que pretende gerar tecnologia para o cultivo de espécies em cativeiro com foco de colocar no mercado da aquariofilia (prática de criar organismos aquáticos em aquários, tanques artificiais ou naturais) um peixe legalmente gerado.

Pois, 90% daqueles que estão nos aquários são capturados de seu habitat natural sem qualquer tipo de controle ou fiscalização, segundo dados do artigo “Análise do Comércio de Peixe Ornamental Marinho no Estado do Ceará, nordeste do Brasil” (Analysis of the marine ornamental fish trade at Ceará State, northest Brazil) publicado no jornal “Biodiversity and Conservation” em 2002. Outro objetivo do projeto é “estudar e gerar dados de espécies que nada se sabem a respeito, contribuindo também para a biologia pesqueira” explica a pesquisadora.

 Os peixes neon (Neon gobi Elacatinus Fígaro), Palhaço, mais conhecido como Nemo (Amphiprion ocellaris), Gramma brasileiro (Gramma brasiliensis), Paru, chamado também de peixe-frade (Pomacanthus paru) e ainda o tão admirado cavalo-marinho (Hippocampus sp.) estão entre as nove espécies de ornamentais de água salgada de origem brasileira e exóticas pesquisadas no projeto. 

O estudo que é realizado com financiamento do CNPQ e CAPES começou com a análise do Neon (Elacatinus Fígaro). Uma espécie ameaçada de extinção que desempenha uma função primordial para os ambientes recifais, servindo como “limpadores naturais”, pois age no controle dos ectoparasitas em diversos peixes e têm sofrido nos últimos 20 anos uma redução drástica no índice de sobrevivência, despertando a atenção das autoridades. “Fizemos um teste utilizando o neon para realizar uma limpeza nos ectoparasitas de uma garoupa que teve uma redução de 90% e uma melhora significativa na saúde da garoupa”, ressalta. Outro benefício descoberto do neon é a função relaxante de suas nadadeiras nos outros peixes.

Desafios

O LAPOM se assemelha a um grande criadouro de peixes fazendo com que estes animais passem por todas as etapas naturais de reprodução e desenvolvimento: desde o processo de formação dos pares, desova, surgimento e concepção da larva passando pelo crescimento destes peixes até se tornarem adultos, formando assim um novo ciclo. Em cada etapa estes animais são mantidos em tanques separados com água salgada provenientes do mar, daí o motivo do Laboratório estar localizado próximo à praia. Esta água passa por processos de filtragem e purificação para se manter a mais limpa possível e livre das bactérias consideradas maléficas aos peixes.

Os maiores desafios se concentram na sobrevivência e alimentação das larvas e dos peixes juvenis, com poucos dias de vida, por serem muito pequenos, sensíveis e consumirem minúsculos organismos vivos chamados de rotíferos. É o que explica o mestrando em aqüicultura, recursos pesqueiros e participante da equipe, Raoni Cruz Mendonça, que desenvolve sua dissertação com base no projeto, voltada ao efeito de diferentes fotoperíodos (quantidade de luz e escuro) das larvas do “peixe-palhaço. “Durante a larvicultura a sobrevivência chega a uma média de 30% ”, afirma.

Todas as espécies utilizadas a princípio no experimento foram adquiridas legalmente pelo IBAMA, que passa por um criterioso processo de licenciamento e fornecimento destes animais, principalmente daqueles ameaçados de extinção. Os novos peixes desenvolvidos no projeto repetem os processos de reprodução e alimentação.

Saiba mais sobre o mercado dos peixes e a cultura de conservação

O aquariofilismo é uma prática desenvolvida há milênios e que ganha cada vez mais adeptos em todo o mundo. Sua popularização ocorreu a partir do século XIX na Inglaterra em 1850 quando Robert Harrington publicou no diário Chemical Society de Londres suas descobertas que explicavam como manter peixes em recipientes com água por meio da realização de experimentos com peixes e animais aquáticos em um tanque de 13 litros. Quatro anos antes, a bióloga marinha britânica Anna Thynne conseguiu outra proeza criando em um período de três anos corais e algas dentro de um aquário. A conquista lhe valeu o reconhecimento de primeira criadora de aquário marinho equilibrado. Em 1854, o termo “aquário” foi utilizado pela primeira vez no livro “The Aquarium: Na Unveiling of the Wondres of the Deep Sea” de Philip Gosse, naturalista britânico.

Todas estas descobertas contribuíram para a construção dos grandes aquários públicos de água doce em diversos países da Europa. O Regents Park, a London Zoological Society e o Zoological Gardens de Surrey foram os pioneiros na Inglaterra. Outros países europeus também despertaram a atenção para prática e lançaram os seus próprios aquários públicos, como a França no ano de 1860 e Portugal com o aquário Vasco da Gama, em 1898. 

Estes tinham um caráter mais decorativo e menos funcional, uma vez que se obtinha pouco conhecimento técnico acerca de fatores externos que auxiliavam na sobrevivência dos peixes dentro da água, como temperatura, luminosidade, material que formava o aquário e sua estrutura. Da mesma forma, este transporte dos peixes era afetado. A descoberta dos sacos plásticos como meio de transportar estes animais do momento da venda até o deslocamento para o aquário se tornou um importante aliado.

No Brasil existem cerca de cinco mil lojas de aquariofilia gerando cerca de 25 mil empregos diretos e 75 mil indiretos, conforme dados do Sebrae, já levando em conta os postos de trabalho dos pescadores, exportadores, importadores e distribuidores.

Os Estados Unidos são um dos países que se destacam na cultura da criação de peixes em aquários, um mercado que chega a movimentar um milhão de dólares no país, segundo dados do artigo “United States of America Trade in Ornamental Fish, de Frank A. Chapman, lançado em 1997 no Journal World Aquaculture Society

Ainda nos dias atuais, a questão do manuseio dos peixes desde o local de extração até os pontos de venda é bastante delicada e atinge significativamente o índice de sobrevivência destes animais, como ressalta a pesquisadora Mônica Yumi. “Muitos peixes são extraídos de seu habitat natural para o comércio e durante esta locomoção um volume muito grande deles acabam morrendo”.

Emanuelle Marques Nunes
Reportagem Especial para o Portal da Ilha Digital


LAPOM/UFSC
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